segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Apresentação, por Arcângelo Ferreira.

O estouro da artéria de um cavalo húngaro é livro inaugural de um jovem escritor engajado com o mundo. É oportuno lembrar que Thiago Roney fez seus primeiros ensaios através de um fanzine, Claraboia. Neste, por sinal, publicou dois contos que reúne no conjunto de narrativas que o leitor agora tem em suas mãos. O exercício da escrita que vem desenvolvendo desde os tempos do primeiro número de “Clara” (como nós costumamos chamar carinhosamente) fez com que ele apresente ao leitor um livro mais amadurecido. O que era, por vezes, radical e direto, agora ficou mais, labiríntico e inaudito. Por isso, através de sua prosa de ficção, deixa evidente que Literatura é segredo à espera da decifração do leitor intrigado.
     Nos enredos que o leitor está preste a ler é perceptível uma preocupação com o insólito. Estruturadas numa concepção de tempo não linear, as narrativas inscrevem um ritmo ilógico revelando, assim, que a vida é um absurdo. Por isso, na urdidura dos onze contos há um amálgama, a representação da loucura. A loucura, com efeito, como o autor deixa enunciado de forma subsumida, é o testamento do fracasso da ordem social que arma e amarra a realidade. Nessa acepção, os personagens neuróticos que pululam das intrigas que açulam o leitor atento acabam por revelar uma verdade, previamente posta na epígrafe do livro.
      Nessa medida, considerando que a realidade também representa um texto a ser lido, decifrado e manipulado pelo escritor, há acurada utilização da metalinguagem, principalmente no conto que leva o título do livro. Aqui o escritor – personagem e sujeito histórico – mostra como se processou a feitura d’O estouro da artéria de um cavalo húngaro, relacionando, com efeito, ficção e realidade, numa tessitura em que se envolvem aspirações do narrador-personagem e autor real.
     Partimos do pressuposto que um livro é fruto e produto do tempo e para ser bem decifrado é imprescindível à relação dialógica entre o tempo do autor e o tempo do enunciado. Por isso, os personagens inerentes às tramas representam a subjetividade do autor. Ora, as máscaras alegóricas despontam das angústias. Marcas afloradas da vida cotidiana. Destas o autor extrai os motivos para urdir os seus contos. Aqui, o cotidiano inspira a trama. A trama deflagra a vida.
    Não posso deixar de mencionar o tom criativo pelo qual o Thiago Roney pensa e produz seus enredos. Como a vida, já dissemos linhas acima, as tramas revelam rupturas nas contexturas descontínuas. Numa escrita que revela vontade de potência. Onde o leitor escuta o estrondo da pulsão e de toda a neurose presente nas artérias de um noviço escritor que recolhe das silhuetas da vida poesias que se transmutam, através de suas narrativas, em prosa.
   Caro leitor você está convidado a entrar nesses bosques onde o autor, degustando os cogumelos da realidade fez de seus contos experiências alucinógenas.

Arcângelo da Silva Ferreira é mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia, professor universitário da rede privada de ensino, escritor alternativo, colaborador do fanzine Claraboia e coautor do livro História, cidade e sociabilidade.



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